Lá estavam os quatro senhores sentados em suas poltronas individuais, cada um fumando seu cachimbo, esquentados por uma lareira que ardia furiosa. Que pela falta de vigor, os senhores simplesmente não tentavam lhes abrandar. Algum deles disse que era o tempo queimando, outro disse que suas vidas. A vida como uma lareira, que demora a incendiar, queima aos poucos e urge em labaredas fumegantes, aos poucos vai perdendo a força, viram brasas até que ao pó retornam.
Afrânio, Floriano, Gilberto e Carlos; Advogado, Médico, Engenheiro e Jornalista, respectivamente. Ambos por volta dos 60 e muitos, viúvos e se conhecem desde criança. Adicionado o gosto pelo tabaco, paramaí as semelhanças entre eles.
- Caros, qual de nós será o primeiro a morrer? Pergunta Floriano, após uma longa tragada em seu cachimbo.
- Você como médico é quem nos deveria dizer isso. Retruca Afrânio.
- Mas se ele dissesse o que pensa, ele não escutaria as nossas opiniões. Comenta o jornalista.
- Eu. Num tom seco afirma Gilberto.
O que era para ser uma pergunta retórica, caiu como uma bomba entre os amigos. O médico imediatamente se arrependeu do que disse, por perceber que não é o tipo de coisa que se pergunta quando não se consegue imaginar uma vida mais 30 anos a frente.
- Pare com idiotices Gilberto, você é o mais saudável de todos nós. Diz Afrânio.
Com um olhar cabisbaixo Gilberto deixa o cachimbo de lado e diz:
- Próstata, estágio inicial, talvez consigam reverter com quimio.
Todos concordam com a cabeça, faz-se um tempo de silêncio. longas tragadas, até que Carlos faz um breve comentário.
- É ultrajante colocarem o dedo no seu cu e dizerem que você tem câncer.
Concordam com a cabeça mais uma vez, outra pausa. Até que Afrânio se pronuncia.
- Por coincidência eu fiz o meu exame ontem.
- E foi bom para você? Carlos comenta sarcasticamente.
- A falecida senhora sua mãe vai bem? Era o mais próximo de um palavrão que Afrânio conseguia chegar, após anos de retórica nos tribunais.
Antes que Carlos pudesse treplicar a ofensa Floriano volta a se pronunciar:
- Não acho que esse assunto vá render, estamos desperdiçando tempo com bobagens a respeito de um assunto que pode estar ferindo nosso amigo Gilberto.
- Eu vou superar. Completa o Engenheiro.
Outra pausa e uma longa tragada. Gilberto se pronuncia:
- Lembrei de uma coisa agora.
- O quê? Pergunta Carlos.
- De quando éramos rapazolas, e disputamos para ver quem tinha o pinto maior.
- Não, não Gilberto! Isso era um concurso de punheta. Acrescenta Floriano.
- Eu fui o vencedor do último. Com um sorriso maroto e nostálgico Afrânio faz o comentário.
Todos riem da bobagem, Afrânio ri tanto que não consegue parar. Tem um acesso de tosse e pigarro, até que consegue finalmente dizer:
- Eu estou disposto a por meu título em disputa. Já levantando da cadeira e afrouxando o cinto.
Os outros riem mais um pouco, e Floriano levanta da sua cadeira dizendo.
- Eu o desafio.
Carlos e Gilberto ficaram atônitos, pois pensavam que era mais uma brincadeira entre eles. Carlos vê Gilberto levantar soltando o cinto e diz:
- Amigos, eu não vou participar disso, isso é deprimente; vejam só vocês senhores de respeito, pais de responsabilidade e dignidade.
- Você diz isso porquê tem pau pequeno Carlos! hahaha! Comenta Afrânio.
- Ah eu mostro pra você...
Emparedaram-se em direção a lareira, com as calças arriadas. Alguém comentou que seria nojento limpar aquilo depois, mas o comentário foi ignorado sem ser ouvido, seja de quem tivesse vindo.
Uma competição simples, ganhava quem conseguisse ejacular mais longe, o que para aqueles senhores, só o gozo já seria uma vitória. Então seguiram, sem muita pressa, sem ofrenesi de uma bronha adolescente ou a cadência de uma experiente, algo no ritmo que para eles era permitido.
Floriano, foi o primeiro a desistir da competição. A angina de esforço não lhe permitia mais esse tipo de disputa. Gilberto na sequência desistiu, pois não conseguiaenrijecer o seu membro.
Então ficaram Afrânio e Carlos em disputa, não se podia dizer que era um confronto de gigantes pois nenhum deles fazia jús a esse título, talvez um dia, mas não mais. E passados 20 minutos o jornalista suja as mãos, com o máximo que chegou. Afrânio continua até que também se suja, mas uma única gota espirra a cerca de 20cm a frente de onde estão seus pés.
Levanta os braços e fala:
- O maior campeão de todos os tempos!
Ao falar, cai do bolso uma cartela vazia dos famosos comprimidos azuis. Todos olham para aquilo se entre olham até que Carlos toma uma atitude.
- Trapaceiro!
Carlos não bateu com força, mas foi com a mão suja de porra que o fez. Talvez a cena mais degradante da vida daqueles senhores, Carlos subiu as calças e foi-se embora. Floriano e Gilberto também se foram, mas não sem deixar os olhares de reprovação e um leve balançar de cabeças de um lado para o outro, algo decepcionante na vida daqueles senhores.
Afrânio, ainda tentou falar qualquer coisa, mas viu o quanto a situação era estranha. Ter ganho a disputa daquele jeito, realmente não teria sido a melhor forma.
A Campainha toca, ele segurando as calças vai atender. À porta, uma mulher vestida de enfermeira em um traje muito justo em seu corpo escultural, cabelos e olhos pretos como a noite, muito parecida com uma índia, belíssima.
- Doutor Afrânio?
- Sim, sou eu.
- Sou a acompanhante que a agência mandou.
- Por favor, entre.
- Me disseram que seria uma festa para quatro.
- Bom, você vai ter de se contentar apenas comigo.
- Isso na sua cara é o que estou pensando?
- Longa história, entre entre, temos muito o que fazer.
Fechou a porta e teve de aproveitar a surpresa que tinha preparado para os amigos, sozinho. Como seria sua vida, dali em diante. O que justificava o porquê de ter tomado o tal comprimido azul.