domingo, 16 de novembro de 2008

Dr. Colt 45

Entrou no quarto com sua pequena maleta preta, usava branco para homenagear seu santo forte, pois era um dia que precisava da ajuda dele.

Caminhava de um lado para o outro. Pensando sobre o que iria fazer de sua vida. Segurava um copo d'água com um analgésico efervescente na mão esquerda, uma colt 45 na esquerda.

De um lado ao outro enquanto o remédio se dissolvia. O tempo não passava. Um tiro, um susto, um grito. Não foi a arma dele, veio de fora do quarto do hotel vagabundo. 

Apontou a arma para porta. Escutou passos no corredor. Três batidas na porta, toc, toc, toc. Perguntou quem é e obteve uma resposta sarcástica "alguém que quer atirar em você. vamos, abra essa porta rapaz".

Atirou 5 vezes, onde imaginou pela sombra embaixo da porta onde a pessoa estivesse. Escutou o corpo caindo, nem precisou abrir a porta para ver o corpo de alguém que ele mal tinha conhecido. O recepcionista do pequeno hotel que em seus ultimos momentos de vida havia pensado que aquele homem todo de branco era um médico.

domingo, 28 de setembro de 2008

Anjo de Merda...

Pedro olhou para o Sol e viu a silhueta de um anjo.

A primeira coisa que percebeu é que nada balançava entre as pernas do anjo.

Então aquele ser alado arqueou os joelhos.

Pedro comprimiu os olhos para enxergar, mas logo ficou cego.

Não pelo sol, mas pelo cocô anjelical que lhe cobria os olhos.

domingo, 7 de setembro de 2008

Emílio e seu gato.

Emílio tinha um gato e todos os seus amigos tinham cães, e por sua vez levavam seus cachorros para passear. Enquanto o gato do menino era arredio e de difícil manejo, como todo gato, para ele ser levado para uma volta no quarteirão.

No auge de sua experiência de 9 anos o garoto amarrou o gato com um cordãozinho e saiu para dar uma volta com o bichano. Mas o gato não estava alegre com a situação e logo deixou de ir na frente para ser arrastado pelo dono. Emílio pouco se importava e seguiu feliz da vida na frente com seu gato relutante atrás.

Quando chegou em casa perdeu todo o ar de felicidade, percebeu do porque de gatos não serem levados para passear, nós corrediços gastam todas as 7 vidas dos gatos.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Ele&Ela

Ele disse "Volta pra mim!". Ela retrucou "não, tenho pena de ti".
Ele completa "Se tem pena volta". Ela complementa "tenho pena do que você se tornou".
Ele inventa "não consigo viver sem você". Ela atormenta "então aprenda".
Ele lamenta "foi bom te conhecer". Ela entende "que bom que você compreende".
Ele atira "vaca ordinária". Ela morre "seu filho da puta".

Mandos e Desmandos de Maurício

Maurício se dizia o tal, o maioral, aquele que mandava no pedaço.

Mandava e desmandava, fazia e desfazia, era governante e ao mesmo tempo fazia rei quem merecia.

Um dia encontrou uma bala perdida, que o fisgou no pescoço abrindo sua carótida com pouco esforço.

Enquanto o sangue jorrava, Maurício não via futuro e nem mandava em mais nada.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

O Vôo

Um breve vôo sobre o deserto do Arizona. Um avião velho, de 50 anos atrás que não pode atravessar a barreira do som. Um piloto tão velho quanto, relembra seus dias de glória derrubando kamikazes em Pearl Harbor. Ele está velho e hoje voar é um hobby, não mais um dever e uma obrigação.

Lembrou de quando era jovem e estava na força aérea americana, sentia-se o defensor da humanidade por isso podia estuprar a vontade quantas garotinhas japonesas encontrasse durante a ocupação. Era o dono do mundo com seus compatriotas e podia condenar a fuzilamento qualquer pai de família que fosse contra o seu desejo árdil sexual.

Lembranças, que não eram boas, na verdade pecados. Sentiu um ardor no peito. largou as mãos do manche, o avião foi perdendo altitude. Lembranças dolorosas e um princípio de infarte latente, olhou para o solo estéril do deserto e soube que assim foi a sua vida e agora em sua morte, um infarte não seria o suficiente para regenerar sua alma.

E como últimas palavras disse "Deus abençoe a América!" e olhou para o horizonte e a voz da própria América respondeu "Não responsabilize a mim pelo seus atos, pessoa viu e egoísta".

Fechou os olhos e desejou estar morto antes de se chocar com o solo. Mas não, ele ardeu no inferno de chamas com a explosão que sucedeu.

domingo, 24 de agosto de 2008

Beijo

Ele a beijou pela manhã e ela tinha gosto de pão com manteiga.

No almoçou quando a beijou tinha gosto de feijão com arroz.

No meio da tarde ela tinha gosto de café e bolachas de água e sal.

A noite ela tinha gosto de alho e queijo.

...

E lembrou que um dia ela tinha gosto de queijo importado pela manhã, de vinho tinto no almoço, de trufas de chocolate no meio da tarde e a noite o gosto amargo do seu sêmen.

Vôo digestivo

Era a mais linda modelo do mundo. Os mais altos contratos, roupas dos melhores estilistas e sempre na capa das revistas mais importantes revistas de moda.

Um dia se enfeiou feito uma gata borralheira para ver o que as pessoas comuns falavam de suas capas e foi a uma banca de revistas, onde várias revistas em quadrinhos estavam no seu caminho, e acabou folheand uma a uma.

Observando os corpos esculturais desenhados das super-heroínas. Quando avistou a mais recente edição da revista da Mulher-Maravilha, ela simplesmente deduziu uma coisa: Voar emagrece, não existem super-heroínas gordas.

Dizer

- Diz que me ama?
- Digo.
- Então diz!
- Te amo.
- Foi difícil?
- Não.
- Por que nunca disse antes então?
- Porque é fácil dizer quando não reprenta nada.

O Pequeno

Vindo de um planeta distante, um asteróide na verdade, onde ele era o único habitante e de tão alta nobreza era seu espírio que merecia o título de príncipe.

Quando pôs os pés na Terra em sua ingenuidade entrou em contato com os homens que quiseram entender como ele veio de tão longe sem nenhuma espaçonava ou traje espacial, como aquele ser respirava no vácuo.

Mas ele queria apenas fazer amigos e confiou nos homens, os mesmos que o trancafiaram em um laboratório por meses testando seus limites até dar cabo em sua vida e dissecarem seu corpo para e perceberem que era idêntico ao corpo de qualquer outro humano.

E perceberam em sua estupidez que simplesmente o essêncial é invisível aos olhos.

O sussurro de Margot

Margot era a mais linda do escritório. As pernas mais torneadas e o seios mais fartos.

Seu marido Arnaldo era o mais canalha de todos, chegando em casa pela manhã de quinta-feira com bafo de cachaça e batom de uva no colarinho.

Enquanto seu filho chamava de Toninho, o mais mimado e egoísta de todas as crianças do bairro.

Dr. Tarso era o advogado seu chefe, que a assediava sempre que ia pegar um café. E era um viciado em cafeína.

Digão era o maníaco do trem que sempre tentava roçar seu pau nela pelas manhãs.

No meio disso tudo ainda tinha a aproveitadora Dona Flávia que arrumava alguma desculpa e uma mentira para Margot lhe arrumar dinheiro, não negava dinheiro à mãe mesmo ela sendo viciada em jogo.

Sem esquecer de Seu Roberto, que dizia para todo mundo que tinha problemas de memória e de respiração, onde colocava cânhamo concentrado no recipiente de seu nebulizador.

Então um dia Toninho pediu dinheiro para ir ao colégio, já que o pai estava bêbado no sofá e reclamou que o dinheiro e a atenção que Margot o dava não eram suficientes. Já que ela trabalhava a duas horas de casa e o dia inteiro para manter a casa em ordens já que Arnaldo sempre perdia o emprego. Margot engoliu a seco as palavras do menino.

No onibus finalmente Digão conseguiu ficar roçando seu pau como um típico tarado de trem em Margot, que na lotação absurda do vagão ela não tinha como fugir daquele abuso. Chegou no trabalho e seu chefe pediu para que ela abrisse um pouco o decote, ela se recusou. Ele entrou furioso.

O telefone tocou, era a mãe pedindo dinheiro para o fundo das senhoras de poucas posses, Margot sabia do que se tratava e disse que daria um jeito. Quando Dr. Tarso passou e ficou olhando para as pernas da secretaria, tal qual um lobo saliva a presa; ela as enfiou para baixo da mesa.

O telefone mais uma vez toca, era Dona Flávia novamente informando que o pai estava sendo preso por plantar maconha em seu quintal, disse que precisava de um advogado. Margot não tinha dinheiro, precisava falar com o patrão.

Abriu a porta e ele respondeu com aquele olhar de tarado. Perguntou do que se tratava, ela esclareceu. Ele levantou de sua mesa, colocou a secretaria contra a porta, fechando-a e disse que estava disposto a ajudar. Desceu o dedo de leve arregaçando o decote, ela o empurrou forte e ele caiu sobre a mesa de centro, de vidro, felizmente causando um acidente não fatal e infelizmente decisivo na carreira de Margot.

Demitida, arrumava as coisas já pensava em outros advogados conhecidos para intercederem por seu pai e trabalhistas para tratar de seu assédio por Dr. Tarso. Estava indo embora quando o celular tocou.

Era uma nova personagem que se apresentava, seu nome: Júlia, a dona do batom de uva. E só tinha uma coisa a dizer "Estou grávida de Arnaldo" e desliga.

Margot não era do tipo histérica, mas nesse dia ela resolveu gritar e gritou, com toda a sua força à plenos pulmões. E gritou, e gritou, disseram que os sistemas de comunicação tiveram interferência, que se escutou o agudo grito na China acordando inclusive os preguiçosos pandas do zoológico de Pequim. Era um grito como nenhum outro, somente os sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki já tinha ouvido algo similar, mas não tão assustador.

E 30 segundos que Margot havia começado, parou de gritar e viu a devastação do que fez. 32,75km de destruição em cada direção que olhava, claro não sabia disso, mas sabia que tinha destruído a cidade inteira. Arnaldo, Toninho, Tarso, Digão, Flávia, Roberto e Júlia não existiam mais.

Respirou fundo e pensou como foi fácil resolver todos os seus problemas.

O beijo veloz

O vento no rosto, desgrenhando os cabelos. A velocidade estimulando a adrenalina, o cérebro amplamente satisfeito. Abrir os braços e pensar que está voando, existe resitência do ar pois o corpo humano não foi concebido para voar. E ainda sim ele estava alí a 100metros de altura.

E quando percebeu a rua com seus carros e pedestres lhe passou um longa metragem em preto e branco, mudo e sem ritmo, com as melhores cenas cheias de ruído como numa fita de vídeo VHS. Era a sua vida.

Fechou a cara e pensou "Puta merda!".

E beijou o chão a 112 km/h.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Encontros

Encontrou-se consigo mesmo.

- Oi!
- Olá.
- Antes de perguntar por praxe, sei que estou bem.
- Também sei.
- É muito bom me encontrar.
- Pensando melhor, nem tanto.
- Eu quero me dizer uma coisa.
- Então diga.
- Eu sou um babaca.
- É tenho de admitir que sou.
- Bom, já disse o que queria, estou indo.
- Espera, quero te falar uma coisa também.
- O quê?
- Te amo.
- Eu também.

domingo, 6 de julho de 2008

Bang!

Caminhava pela rua, e viu um ponei roxo. Sacou o revolver e atirou. Bang!

Gritou:
- O que diabos faz um ponei roxo nessa cidade? Toma chumbo, seu filho da puta.

Mas o cavalinho não morreu, e relichava de dor. Quando apareceu um padre, Bang! Na testa. Gabriel não gostava de pessoas religiosas, diziam que isso o levaria para o inferno.

Olhou para a arma na mão, não sabia de onde ela vinha. Muito menos o ponei roxo ou o padre. Mas estava tudo alí. Ele atirou na mão para ver se não estava dormindo. Bang! Não estava.

Achou que estava louco, vendo coisas. Apareceu uma cobra que falou:
- Senhor, poderia me dizer onde fica...

Bang!
- Cobras não falam.

Gabriel acreditou estar louco de verdade. Lembrou da bula do psicotrópico que dizia "não ingerir com bebidas alcóolicas". Estava fudido e mal pago, louco varrido, com uma arma na mão direita e a ensanguentada mão esquerda. Bang! Para o ar.

Quando o xerife apareceu.

- Entregue a arma.
- Não.
- Entrega.
- Não.

Bang! Bang! Bang! Bang!

E assim Gabriel, morreu.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Que Vá Para o Inferno

Gilberto estava apressado a passos largos, Haroldo deu uma corridinha para acompanhá-lo e perguntou:

- Aonde vai com tanta pressa?
- Vou ao inferno.
- Por quê?
- Porque esfriou.
- O inferno esfriou?
- Sim, esfriou, estou indo pra lá e estou com uma pressa dos diabos.

Apertou o pique, Gilberto não queria a companhia, não gostava de gordos, tinha preconceito com quem não se cuidava e ficava comendo bobagens todos os instantes. Haroldo não tinha tanto fôlego. Comia ovos e bacon todos os dias, sedentário, bebia muito. Mas ainda sim o acompanhava. Tal qual um capacho.

- Gilberto, como você vai para o inferno?
- Acho que tenho de morrer para isso.
- E como você pensa fazer isso?
- Morrendo, claro.
- Isso não vai dar certo.

Gilberto chegou a ladeira e desceu correndo, Haroldo também, se tropeçando todo, taquicardia, aperto no peito que logo vira dor.

- Gilberto, vou morrer.
- Puta que pariu Haroldo, você sempre me atrapalha.
- Vou morrer Gilberto.
- Que merda, seu gordo escroto, você tem de ir em todo lugar que eu vou?
- Cara, eu tou morrendo e você discutindo isso.
- É, estou discutindo isso.
- Vai procurar ajuda, preciso de ajuda.

E foi quando Gilberto pulou na frente do ônibus, espatifado na rua, morreu. Como último pensamento sobrou "Aquele gordo nunca vai chegar no inferno antes de mim".

Haroldo, foi safenado. Emagreceu 40 kilos, e viveu mais 30 anos. Quando morreu também foi ao inferno. Que estava quente como o diabo gosta, e lembrou do amigo Gilberto. Quando o encontrou:

- Gilberto, quanto tempo!
- Olá Haroldo.
- O inferno não estava gelado?
- Não, esfriou.
- Então todo esse calor, é justamente o que esfriou?
- Sim, é.
- E por que diabos você queria tanto vir pra cá?
- Achei que ficaria longe de você.
- Você não me suporta né?
- Não!
- Que legal.
- O quê Haroldo?
- Sua punição perpétua é eu estar acompanhando de você.

Gilberto cruzou os braços e deu um suspiro de "puta merda!".

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Necro

Ele a abraçou, ela não resistiu. Ultimamente a achava muito fria e passiva, sentia falta dos dias de amores calientes. Pedro era apaixonado por Elizabeth desde o colégio, e estavam juntos há anos. Casados, apaixonados e ativos sexualmente.

A acariciou no rosto, ela não respondeu. Ele insistia nos carinhos e ela permanecia inerte. Pedro pensava que o amor dela havia acabado; chegou a lagrimar por imaginar tamanha bobagem e se limitou a pensar que mal podia ter feito a sua esposa.

Sussurrava em seus ouvidos os mais belos poemas já escritos em toda a história da humanidade, e ela não dava a mínima.

Havia algo de muito errado com ela, que não mais respondia suas carícias, não mais incomodava os vizinhos com seus orgasmos, ela simplesmente não reagia. Arrancou-lhe as roupas, bateu no rosto dela, urrava "Diz que me ama! Porra!", mas ela continuava calada e não esboçava menor reação.

O que Pedro havia feito de tão ruim, para a pessoa que mais amava no mundo do dia para a noite ignorá-lo? Não tinha outras mulheres, não era bonito para outras pessoas os desejarem, tinha uma vida comum e monótona, freqüentava umas vezes a igreja outras a ubanda.

Deitou ao lado dela, pediu desculpas. Nunca deveria ter-lhe batido, ela estava de costas para ele e não se incomodava de virar para olhá-lo na face. Ele pedia perdão, e ela permanecia do mesmo jeito.

Ele beija sua nuca e diz "Eu te Amo", quando a campainha toca.

Ele põe um roupão e desce, dá pra ver as luzes giratórias da polícia. Algum vizinho deve ter visto ou ouvido o tapa. Teria de explicar as autoridades o ato de violência doméstica.

- Senhor Pedro Alcântara?
- Sim, sou eu.
- Queira nos acompanhar, o senhor está preso por posse e ocultação do cadáver de Elizabeth Âlcantara.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Sistema

Roberto não era religioso, na verdade nem religião tinha. Dedicava-se somente ao trabalho e tinha ojeriza à boemia. Era um yuppie workaholic, com meta no primeiro milhão de dólares antes dos 30.

Na faculdade conheceu Rosana, por quem se apaixonou alucidamente ao ponto que sairia do trilho de sua meta de vida. Mas ela era comunista, ativista, dessas que usava boina, cabelo chanel e sempre alguma estrela vermelha em qualquer coisa que vestisse. Um livro vermelho no bolso escondido e a internacional comunista como canto de alegria.

Óbviamente não se deram tão bem quanto ele ou ela puderam querer um dia. O fim do relacionamento resumiu-se em diferenças político-ideológico-economicas.

Quando ele formou, já tinha aberto o próprio negócio que gerava lucros absurdos explorando um mercado de concorrência nula. Ações, juros baixos, desenvolvimento econômico, tudo garantiria que tudo estava realmente dentro dos planos de Roberto.

Passaram alguns anos e ele estava prestes a chegar no seu primeiro milhão pessoal, a empresa já atingira há tempos, mas o estresse e a super dedicação exigem seu preço no corpo, careca lustosa, um corpo sedentário e cheios de vícios que só o dinheiro pode pagar.

Um dia reencontrou Rosana, professora universitária com vários livros publicados internacionalmente, sem estrelas vermelhas e com sapatos Gucci. Os anos lhe foram generosos, exceto por uma ou outra curva que lhe acentuou. Desiludida em parte com alguns dos ideais de sua juventude, mas ainda fiel ao regime vermelho mesmo o muro de Berlin já tendo caído há anos.

Ele a convidou para jantar. O melhor restaurante da cidade, elegantes pratos e umas garrafas de Lafite Rotshchild. E tinha tido até então nem uma conversa interessante até que Roberto diz:

- Quer casar comigo?
- Porque isso agora Roberto?
- Quer casar comigo?
- Não. Eu estaria me vendendo ao capitalismo.
- Alta costura, sapatos, luxo e dinheiro não te seduzem então?
- Não.
- E o que você faz com esses Prada última coleção, um brilhante que vale uma casa popular, tomando do meu vinho que equivale ao salário de 4 anos de um trabalhador de um país subdesenvolvido?
- Uma vez Mao disse "é melhor deixar se envolver pelas pequenas moscas do que ficar com a janela fechada".
- Ah, Armani, Prada, Chanel são as moscas então.
- Por um ponto de vista, sim.
Emudecem...
- É você se perdeu nas suas ideologias, Rosana.
- E você seguiu a sua cartilha.

E Rosana tomou uma última taça de vinho. Saiu aos tropeços, Roberto ficou sentado apreciando o momento, pensando que não haviam pequenas moscas, e sim um pandemônio do tipo que arrebentariam a janela de qualquer jeito. E quando Rosana percebesse isso, ele a pediria novamente em casamento.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

DDA

- Hoje pela manhã encontrei com a pessoa mais desbocada do mundo.
- Sério? não acredito, o que ele te disse?
- Me chamou no mínimo de filho-da-puta.
- E no máximo?
- Nem queira saber.
- Mas eu quero.
- Não vou contar.
- Bora, conta aí.
- Fico constrangido.
- Porra! deixa de ser assim e conta logo.
- Não!
- Mas que merda, vai deixar os outros curiosos lá na casa do caralho.
- Isso de longe foi um elogio para o que eu escutei hoje.
- O que você escutou?
- Não conto.
- Então quer saber? pega a porra do caralho dessa merda que tu escutou e enfia no cu.
- Não posso.
- Ué, mas por quê?
- Aquilo que o desbocado falou ainda vai ficar muito tempo enfiado por lá.
- Vai se fuder, tu e essa merda toda.

O amigo deu as costas e foi embora indignado. E ele ficou alí morrendo de vergonha por ter mentido, ao invés de simplesmente dizer que não tinha prestado atenção no que o maior desbocado do mundo falou.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Intimidade

Chamava-se Paulo, ela Vanessa.

Ele acordado, Vanessa dormia.

Paulo fumava ao lado da janela, Nêssa roncava baixinho sem perder o encanto.

Pelado admirava-a, inerte deixava as mostras suas vergonhas, que era o melhor pijama disponível na casa dele.

Paulo resolveu olhar de perto a encantadora buceta, Wanessa estava no 4º estágio do sono profundo.

Beliscou com os dentes uma das nádegas, ela respondeu com flatulência silenciosa e mortal.

Ele reclamou, ela acordou e disse:

- Vêm cá amor, o que foi?

Com uma cara de relapso que ela não podia ver no escuro, ele respondeu:

- Intimidade.

domingo, 1 de junho de 2008

O Cu, o Cachorro e o Martelo.

O quarto dele era tão imundo que ela trancou o cu. Nem que ele pedisse com todo amor e carinho ela iria dar, se ele arrumasse o quarto e implorasse, talvez.

Se conheciam há meses, ficaram há semanas, transaram há dias e ela achava que hoje era um dia especial. Mas com aquele quarto daquele jeito era impossível.

Havia odor de corpos suados como uma academia pé-de-chinelo, camisinhas usadas pelo chão que ele deixava para o cachorro comer, dizia que o probrezinho gostava, e gostava mesmo.

Ele a acariciava e se aproveitava de seu corpo, ela gostava. Ele tentou forçar a entrada pelos fundos, mas ela trancou o rabo e disse que não dava, que não era dessas, apesar de estar pensando em dar, não custava valorizar o material.

Argumentou no ouvido, sussurros delicados de quem quer comer um cu, nada que ela mais experiente já não tivesse ouvido e caído naqueles contos. Insistia e ela negava, transaram convencionalmente.

O cachorro ali prostrado ao lado da cama esperando sua sobremesa.

No auge da foda, ela sente que tem de dar. Sussurra no ouvido dele "Meu cuzinho é seu, me come", ele segura a cabeça dela com as duas mãos, beija sua testa e diz "eu diria, enfia no cu, mas isso seria um ouroboros, então fica com ele pra você".

Ele vira para o lado, joga para o cachorro a camisinha cheia. Ignora-a completamente, estava satisfeito. Um autêntico filho-da-puta.

Ela se veste e vai embora.

Um tempo.

Volta sorrateiramente com um martelo nas mãos, com um único golpe abre um buraco na cabeça dele enquanto dormia. Foi embora, achando que tinha dado um bom motivo para limpar aquele maldito quarto.

terça-feira, 27 de maio de 2008

Dirceu de Marília

- Oi amor, quer passear comigo?
- Claro!
- Estou passando aí para te buscar.

Marília em seu carro popular cor-de-prata buscou o pobre Dirceu em casa. Eram amigos, o chamar de amor não era mais que um tratamento carinhoso da parte dela e esperança da parte dele.

- Sabe amado, tu deveria gostar de Hermanos.
- Ah não, não gosto, acho triste.
- Mas tu sabe que não dá pra ser feliz o tempo inteiro.
- Isso é uma música do Wander...
- Pode me falar de alguém que tenha vendido mais de mil CDs, bem?

Riram um monte depois desse comentário e seguiram passeando de carro em um dia de chuva.

- Então, onde vamos?
- Dirceu, é uma surpresa.
- Ok, ok!

Seguiram escutando os tais Hermanos até o local. Dirceu achava um saco, mas não queria comentar nada para não magoar Marília, afinal quem escutava aquelas músicas tristes deveria ter alguma tendência a cortar os pulsos.

Ao descer do carro, viu uma placa gigante que dizia "Batom Rouge", imediatamente veio o filme com o Ewan McGregor e a Nicole Kidman, um bar ou algo assim, ótima pedida para um sábado como aquele.

Mas não era um bar.

- Marilia, isso é um salão de beleza!
- Sim.
- O que estamos fazendo aqui?
- Vim fazer meu cabelo e as unhas.
- Hummm, e por que me trouxe?
- Você como filho único criado com avó, não gosta de futebol, então não iria jogar uma pelada, muito menos assistir na TV, como estava disposto a passear, te trouxe comigo. E é rapidinho, daqui a pouco nós saímos daqui e vamos comer alguma coisa.

Nesse momento Dirceu percebeu como o amor por Marília não deixaria nunca de ser platônico, ele pensava que ela pensava que ele não era mais que o amigo gay. Ela pensava que ele pensava que ela pensava que ele era somente o amigo gay. E ele pensou que ela pensava que ele estava pensando exatamente isso. Tudo numa fração de segundo, desconversaram, ela foi atendida pela cabeleireira que iria lavar o seu cabelo. Ele pegou um banquinho e ficou alí ao lado dela como um capacho, conversando bobagens e futilidades.

Cabelos lavados, foram secados, para então serem cortados, escovados, hidratados e mais uma vez escovados. Marília estava linda, e Dirceu com cara de entediado. Cansara daquelas 3 horas do salão. Mas nem sabia que apenas 3 horas decorreram, para ele uma eternidade.

- Amado...

Não deu atenção, só refletiu sobre a música imposta, sobre o passeio em um salão de beleza. Mas ele estava apaixonado do mesmo jeito, e optou por ficar calado.

- Amado, acabou sua tortura, vou te levar pra comer.
- Oba!

Ele foi ao carro, buscou o guarda-chuva, se molhou parcialmente com a chuva fina, mas suficiente para acabar com aquelas 3 horas de arrumação de cabelo. Conduziu belíssima até o carro, sentou-se no banco do carona, escorreu o guarda chuva para não molhar dentro do carro. E Marília diz:

- Amor, você é um amor.
- Que isso, eu só...

E foi interrompido por um beijo, que perdurou alguns minutos até que ficassem ofegantes. Marília senhora da situação falou:

- Então vamos comer?

Dirceu com a maior cara de idiota do mundo, fez que sim com a cabeça, as maças do rosto coradas. Desfez todo e qualquer pensamento anterior, agora só pensava de novo em Marília, em como ela era encantadora e realizara algo que ele nunca na vida imaginou, transformou o platônico em real.

Passaram do Drive-thru de uma lanchonete, comeram algo sem cebola ou alho. Se beijaram mais um pouco e ela seguiu o rumo da casa dele.

Ao chegar na porta, ele pergunta:

- Então, o que será que poderíamos fazer mais tarde?
- Puxa, não vai dar, eu tenho um encontro.
- Mas...
- Amado, me desculpa, tu é o mais amável de todos, adorei a tarde, me disse muito sobre você e o quanto eu poderia estar pensando errado de ti. Mas eu tenho um grande amor que eu não queria...

Dirceu nem esperou ela terminar, desceu do carro, bateu a porta como se não tivesse tido nunca uma geladeira em casa, entrou em casa com lágrimas nos olhos e o coração partido em pedaços. Escutou o carro indo embora e nem mesmo olhou para trás, deitou na cama olhando para o teto tentando eliminar todo e qualquer pensamento da cabeça, mas nada acontecia. Ele pensava nela, nos momentos bons após o sacrifício.

Depois de muito pensar, pegou o celular no bolso e escreveu uma mensagem de uma linha:"VACA!".

terça-feira, 20 de maio de 2008

O Desejo

Fez um pedido.

Há muitos anos ele não via uma estrela cadente, já era experiente o suficiente para saber que não passava de um meteoro incendiando-se na atmosfera terrestre. Mas ainda sim, quis ser bobo e pensar que seu podido poderia se realizar.

Pensou nela, naquela que ele sentia saudade. E refletiu sobre coisas que não se deve pedir às estrelas por pura cortesia: Não pedir mais desejos, pois iria exaurir várias estrelas cadentes em supernova; não ressuscitar os mortos, respeitando o descanso dos mesmos; não pedir para que ninguém se apaixone por você, por tamanha invasão do desejo alheio.

Dormiu.

No dia seguinte, a manchete de jornal. "Meteorito deixa vítima fatal". Nem leu o restante da notícia, pegou o celular e ligou imediante para ela "Alô! Tudo bem com você?", ela respondeu com um "Fisicamente sim", depois de longos minutos desligou, sentiu remorso do desejo feito na noite anterior. Botou o mais lindo dos ternos pretos que tinha, e seguiu ao funeral com o desejo que o restante do pedido realizar-se-ia logo.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Sopa de Envelope

- Algum de vocês dois tomou a minha sopa de carne? disse Pedro.
- Me tira dessa Pedro, sabes que eu não como carne. Respondeu Mariano.
- Eu tomei uma de legumes que tava por alí. Acrescentou Henrique.
- Não, eu tomei a de legumes. Retrucou Mariano.
- Então será que não foi você que comeu a de carne Henrique? Pedro perguntou novamente.
- Não cara, eu tomei a de legumes, tinha até pedaços de cenoura.
- Porra gente, que merda, só tem um envelope de sopa de feijão. diz Pedro.
- Não pode ter de feijão, eu comi a última de feijão. Acrescentou Mariano.
- Então não era a última. Pedro fala e segue falando depois de uma pequena pausa de reflexão.
- Mariano, você não comeu a de carne enganado?
- Não, tinha gosto de feijão.

Henrique cruza os braços, arqueia a sobrancelha e diz:

- Ué, mas todas essas sopas de envelope não tem gosto de feijão?

sábado, 10 de maio de 2008

Duda, quer casar comigo?

No primeiro andar dona Sofia reclamou, sobre o que algum vagabundo escreveu na rua.

Já no segundo seu Januário disse que quase deu um tiro no pixador.

Maria Eduarda do terceiro andar, achou que era uma prova de amor de Humberto.

No quarto Gilberto pedia para Estela seus óculos que ele não estava conseguindo ler.

Adriano do quinto, estava com a persiana fechada se recuperando da noite anterior.

Elisa e Linda, que dividiam o apartamento do sexto queriam saber o quanto ia durar esse relacionamento.

No sétimo, Eduardo ligou na hora para Henrique para saber se era de verdade a proposta.

Na cobertura Pedro desacreditava completamente naquele tipo de amor.

E não havia nada de singular para os transeuntes que caminhavam por cima das letras garrafais que diziam "Duda, quer casar comigo? H."

terça-feira, 6 de maio de 2008

Mama Television

Posso dizer que a televisão me educou. Assisti nela uma vez que desde sua invenção o ser humano está passando por um processo de mudança, tornando-se multimídia, absorvendo informações com maior facilidade e estamos exatamente nas gerações intermediárias. Engraçado saber que estamos deixando de ser Homo Sapiens para evoluírmos. Darwin gostaria disso.

Antes de ir para escola assistia desenhos animados, Pernalonga o meu predileto. Sim, o antigo não se enquadra ao politicamente correto de hoje, basta assistir a uma versão atual ver a porcaria que é, sem fósforos no pé, sem pessoas caindo de penhascos, sem pianos na cabeça e sem objetos perfurantes. Deve ter algum mecanismo de censura pra isso.

Prefiro série à novela. Me dá nos nervos o caminho que a novela ganha, como as pessoas se comprometem tanto com histórias que são tão parecidas com as suas, vivendo os mesmos dramas que só se resolvem nos últimos capítulos, enquanto os da vida real ficam perdurando uma vida toda e alguns morrem sem os resolver. Prefiro as séries que tenham algo pra desvendar, um mistério, coisas interessantes sobre fatos históricos, ou mesmo uma visão nova a respeito de algo que já conheço.

Adoro filmes, histórias com início-meio-fim. Você se sente seguro assistindo um filme, sabe que vai ficar ali um tempo. Vai se divertir, chorar, ou despertar qualquer outra emoção e vai acabar sem muita complicação, sem mudança de roteiro ao longo do caminho. Ele sempre vai fechar a ideia que quer passar. Não, me desculpe doutor, mas filme que não tem final definido não passa na televisão aberta. Para a emissora seria se arriscar demais diante do cidadão mediano, ele vai trocar de canal.

Noticiários? Não quando criança, só quando mais velho. A primeira reportagem que vêm a cabeça é sobre a queda do muro de Berlin. Disseram: Assista a história acontecendo diante dos seus olhos. Eu penso que nós que vemos televisão sempre, assistimos a história acontecendo, mas como ela acontece gradativamente nós nem nos damos conta que estamos no meio do processo. É como na visão de nos tornarmos seres multimídia.

Sim, me vi na teve. Foi esclarecedor. Eu não percebi que participava da história até a história ser a minha, entende? Simplesmente aconteceu de pensar que uma metralhadora causaria muito mais impacto na mídia do que uma granada. Sinto culpa claro, não sou um psicopata. Mas não sei dizer o por quê de ter feito isso.

Não, nunca fui carente de atenção a televisão me deu toda a atenção que eu sempre precisei.

domingo, 4 de maio de 2008

Quatro dignos senhores em uma disputa calorosa.

Lá estavam os quatro senhores sentados em suas poltronas individuais, cada um fumando seu cachimbo, esquentados por uma lareira que ardia furiosa. Que pela falta de vigor, os senhores simplesmente não tentavam lhes abrandar. Algum deles disse que era o tempo queimando, outro disse que suas vidas. A vida como uma lareira, que demora a incendiar, queima aos poucos e urge em labaredas fumegantes, aos poucos vai perdendo a força, viram brasas até que ao pó retornam.

Afrânio, Floriano, Gilberto e Carlos; Advogado, Médico, Engenheiro e Jornalista, respectivamente. Ambos por volta dos 60 e muitos, viúvos e se conhecem desde criança. Adicionado o gosto pelo tabaco, paramaí as semelhanças entre eles.

- Caros, qual de nós será o primeiro a morrer? Pergunta Floriano, após uma longa tragada em seu cachimbo.
- Você como médico é quem nos deveria dizer isso. Retruca Afrânio.
- Mas se ele dissesse o que pensa, ele não escutaria as nossas opiniões. Comenta o jornalista.
- Eu. Num tom seco afirma Gilberto.

O que era para ser uma pergunta retórica, caiu como uma bomba entre os amigos. O médico imediatamente se arrependeu do que disse, por perceber que não é o tipo de coisa que se pergunta quando não se consegue imaginar uma vida mais 30 anos a frente.

- Pare com idiotices Gilberto, você é o mais saudável de todos nós. Diz Afrânio.

Com um olhar cabisbaixo Gilberto deixa o cachimbo de lado e diz:

- Próstata, estágio inicial, talvez consigam reverter com quimio.

Todos concordam com a cabeça, faz-se um tempo de silêncio. longas tragadas, até que Carlos faz um breve comentário.

- É ultrajante colocarem o dedo no seu cu e dizerem que você tem câncer.

Concordam com a cabeça mais uma vez, outra pausa. Até que Afrânio se pronuncia.

- Por coincidência eu fiz o meu exame ontem.
- E foi bom para você? Carlos comenta sarcasticamente.
- A falecida senhora sua mãe vai bem? Era o mais próximo de um palavrão que Afrânio conseguia chegar, após anos de retórica nos tribunais.

Antes que Carlos pudesse treplicar a ofensa Floriano volta a se pronunciar:

- Não acho que esse assunto vá render, estamos desperdiçando tempo com bobagens a respeito de um assunto que pode estar ferindo nosso amigo Gilberto.
- Eu vou superar. Completa o Engenheiro.

Outra pausa e uma longa tragada. Gilberto se pronuncia:

- Lembrei de uma coisa agora.
- O quê? Pergunta Carlos.
- De quando éramos rapazolas, e disputamos para ver quem tinha o pinto maior.
- Não, não Gilberto! Isso era um concurso de punheta. Acrescenta Floriano.
- Eu fui o vencedor do último. Com um sorriso maroto e nostálgico Afrânio faz o comentário.

Todos riem da bobagem, Afrânio ri tanto que não consegue parar. Tem um acesso de tosse e pigarro, até que consegue finalmente dizer:

- Eu estou disposto a por meu título em disputa. Já levantando da cadeira e afrouxando o cinto.

Os outros riem mais um pouco, e Floriano levanta da sua cadeira dizendo.

- Eu o desafio.

Carlos e Gilberto ficaram atônitos, pois pensavam que era mais uma brincadeira entre eles. Carlos vê Gilberto levantar soltando o cinto e diz:

- Amigos, eu não vou participar disso, isso é deprimente; vejam só vocês senhores de respeito, pais de responsabilidade e dignidade.
- Você diz isso porquê tem pau pequeno Carlos! hahaha! Comenta Afrânio.
- Ah eu mostro pra você...

Emparedaram-se em direção a lareira, com as calças arriadas. Alguém comentou que seria nojento limpar aquilo depois, mas o comentário foi ignorado sem ser ouvido, seja de quem tivesse vindo.

Uma competição simples, ganhava quem conseguisse ejacular mais longe, o que para aqueles senhores, só o gozo já seria uma vitória. Então seguiram, sem muita pressa, sem ofrenesi de uma bronha adolescente ou a cadência de uma experiente, algo no ritmo que para eles era permitido.

Floriano, foi o primeiro a desistir da competição. A angina de esforço não lhe permitia mais esse tipo de disputa. Gilberto na sequência desistiu, pois não conseguiaenrijecer o seu membro.

Então ficaram Afrânio e Carlos em disputa, não se podia dizer que era um confronto de gigantes pois nenhum deles fazia jús a esse título, talvez um dia, mas não mais. E passados 20 minutos o jornalista suja as mãos, com o máximo que chegou. Afrânio continua até que também se suja, mas uma única gota espirra a cerca de 20cm a frente de onde estão seus pés.

Levanta os braços e fala:

- O maior campeão de todos os tempos!

Ao falar, cai do bolso uma cartela vazia dos famosos comprimidos azuis. Todos olham para aquilo se entre olham até que Carlos toma uma atitude.

- Trapaceiro!

Carlos não bateu com força, mas foi com a mão suja de porra que o fez. Talvez a cena mais degradante da vida daqueles senhores, Carlos subiu as calças e foi-se embora. Floriano e Gilberto também se foram, mas não sem deixar os olhares de reprovação e um leve balançar de cabeças de um lado para o outro, algo decepcionante na vida daqueles senhores.

Afrânio, ainda tentou falar qualquer coisa, mas viu o quanto a situação era estranha. Ter ganho a disputa daquele jeito, realmente não teria sido a melhor forma.

A Campainha toca, ele segurando as calças vai atender. À porta, uma mulher vestida de enfermeira em um traje muito justo em seu corpo escultural, cabelos e olhos pretos como a noite, muito parecida com uma índia, belíssima.

- Doutor Afrânio?
- Sim, sou eu.
- Sou a acompanhante que a agência mandou.
- Por favor, entre.
- Me disseram que seria uma festa para quatro.
- Bom, você vai ter de se contentar apenas comigo.
- Isso na sua cara é o que estou pensando?
- Longa história, entre entre, temos muito o que fazer.

Fechou a porta e teve de aproveitar a surpresa que tinha preparado para os amigos, sozinho. Como seria sua vida, dali em diante. O que justificava o porquê de ter tomado o tal comprimido azul.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Corra, Marcelo, corra!

Era perto da meia noite quando Gisela ligou para Marcelo.

- Oi meu lindo, queria que você soubesse que tou perto da sua casa esperando o meu ônibus. Liguei só para dizer que fico feliz em saber que estou perto de ti mesmo não dando para te ver.
- Meu amor espera, eu vou aí.
- Marcelo, o último ônibus vai passar, em 2 minutos e tu sabe que é difícil deles atrasarem.
- Tá, mais vou mesmo assim. Tou indo, tou indo, um beijo.
- Um beijo.

E ele estava dorminhoco mas despertou em riste, havia sido um péssimo dia de trabalho, pôs uma calça e uma camiseta. E saiu correndo sem dizer nada. As pessoas com quem ele dividia apartamento, não entenderam o que acontecia, ele não parou para explicar.

Eram dois quarteirões até o ponto de ônibus, ele como um louco saiu correndo. Na cabeça ecoava algo como "Corre, Forest, Corre!" e corria. Ao se aproximar do ponto, viu o ônibus a 100 metros parado no sinal vermelho. Correu, correu e chegou onde queria.

Nem era dia de lua cheia, mas era como se fosse. Um céu noturno daquele tom que você não sabe se é preto ou um roxo muito escuro. Mas havia algo no clima que parecia haver uma iluminação além da pública, fosse o amor provavelmente.

Num ponto de ônibus lotado, ele ali ofegante procurava por Gisela. Com os pés e pescoço esticados tentando enxergá-la, o coletivo já se aproximava e por de trás dele ela surge cutucando-o com o indicador da mão direita nos ombros.

- Oi meu lindo. Como é bom te ver.
- Também acho bom te ver. Vim te trazer um beijo.

E se beijaram. Ela fez uma cara de envergonhada e sorriu como se nenhum dos outros beijos tivesse sido tão especial quanto aquele. Todas as outras pessoas já haviam subido no ônibus e ela disse.
- Te gosto.
- Te gosto também.

Ele ali com cara de bobo ficou esperando o ônibus partir e não mais poder ver Gisela. Ela pensou "gosto dele, mas ele podia ser menos infantil e me pedir para dormir com ele" enquanto ele pensava "Eu poderia ter dito ao telefone para ela dormir em casa, mas eu nunca teria essa história para contar".

Ficou alí por longos 5 minutos e decidir voltar para casa, apreciando a lua que não existia iluminar somente o seu caminho.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Amor Precognitvo

Pedro Luís tinha o dom da premonição, mas não era um altruísta. Muito pelo contrário, devia ser a pessoa mais egoísta que ele mesmo conhecia.

Podia prever com precisão todo e qualquer acontecimento, mas não deixava que as visões simplesmente acontecessem, ele controlava o processo. E por mais que a física não explicasse como, ele alterava seu próprio futuro e das pessoas em seu entorno. Impedindo o fluxo natural das coisas.

Aos cinco anos quando a uma menina do jardim de infância disse que queria namorar com ele, ele disse que sim pois queria dar o seu primeiro beijo na escola, mas que ela nunca iria querer dividir um pirulito com ele. E realmente, nunca aconteceu. O relacionamento não durou mais que um recreio.

Aos doze, negou um relacionamento por saber que a menina iria ficar com seu tão adorado Nevermind do Nirvana. Nem deu chance para ela, com isso o futuro mudou a garota hoje conhecida como Lovefoxx e tem uma banda internacionalmente conhecida, e não suporta ouvir falar em Kurt Cobain.

Mal tinha 15 e gritou com uma menina na rua "A merda do disco do Roberto é meu!". Era realmente muito ciumento com seus discos, nunca mais viu a menina.

Com dezesseis ele aceitou um namoro que ele sabia que duraria até os 21, depois de ótimos 5 anos de sexo ele iria conhecer outra pessoa, mas aos 16 o máximo que ele sabia sobre aquele evento é que ele aconteceria, só quando conhecesse a pessoa é que ele poderia prever.

E como profetizado, aos 21 a conheceu. A pessoa mais adorável e delicada do mundo, ficaram apenas uma vez. Pois na erupção de todo aquele amor, ele negou saber como aquilo terminaria, pela primeira vez, não importava. Se tivesse feito, teria evitado a trágica e fulminante batida de carro. Ela morreu e ele ficou tetraplégico. Depois desse dia, não mais conseguiu enxergar em nenhuma pessoa um relaciomento válido ou muito menos durador.

Os dias eram lentos e se passavam a passos largos. O destino é o mais injusto de todos os justos, naquela situação aconteceu de ele nunca ter assistido Menina de Ouro para pensar em mastigar a própria língua para se afogar em seu sangue e acabar com seu sofrimento que o consumia por dentro.

Se culpava todos os dias por não ter usado o dom quando devia, como tinha sido egoísta naquele momento e como o foi a vida toda. Mas isso o fez ver que suas premonições não tinham propósitos individuais e se focou no coletivo, virou guia espiritual em uma comunidade exotérica no centro-oeste brasileiro e viveu o resto de seus dias com toda a dignidade possível de quem não consegue nem ao menos comer ou se limpar sozinho.

E refletia, sobre como é justo o destino injusto.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Podolatria Incontida

As pessoas caminham e eu posso escutar cada passo, todo pé emite seu barulho próprio: pois cada um carrega em si um peso diferente, possui um formato diferente, a sua digital é o seu caminhar. Queria poder morar na praia, onde as pessoas andam descalças e poderia saber exatamente o som de cada pisada como uma identidade. Mas infelizmente não posso. E o pior de tudo, agora é inverno.

Não sei explicar ao certo a sensação de prazer que tenho ao admirar um pé. Observo tudo: desde o movimento do tarso em contato com a perna até a ponta das falanges distais. Não sei explicar como é bonito um pé bem formado, como isso me excita, como isso me enche de prazer e me faz parecer tão esquisito aos olhos de tantos.

Quanto eu não daria para ver um pé neste inverno, pois é claro que com essa minha fixação as namoradas ficaram longes e acabo me voltando para os pés de aluguel. Mas as mulheres sumiram das ruas, só encontro travecos com seus pés tamanho 42, tamanhos esses que não me interessam. Se vocês pudessem escutar como é a pisada de um homem usando um salto, nem mesmo precisariam olhar nos meios das pernas para saber do que se trata de um individuo másculo e como é ofensivo aos meus sensíveis ouvidos tal situação.

O pé da mulher tão fino, delicado, unhas feitas, dedos bem distribuídos; interessantes, ao contrário dos pés masculinos, grossos e desengonçados, unhas por fazer e dedos calejados de tanto futebol. Pés de atletas não se comparam em nada com os pés das dondocas, que visualmente me enchem os olhos em um salão.

As vezes reflito sobre essa minha obsessão e o quanto ela move minha vida, mas é algo além da minha vontade e compreensão. Definitivamente é uma paixão avassaladora e intensa que move a minha observação ao pé alheio. A cada segundo que passa é uma nova paixão diferente, um pé em um calçado. Uma doce emoção.

Me perco na agonia quando o inverno chega e as sandálias rasteiras desaparecem, os scarpins vão sumindo gradativamente, tudo vira bota.

Como é ofensivo o som da bota, aquele maldito o salto carregado, o pisar estranho. Tudo fica tão ruim no inverno, que penso em ficar em casa. Mas não, não posso, a vontade de captar um pé novo é maior. Só que não adianta, todos estão com encapados. Por deus, tudo que eu queria era ver um pé que não fosse o meu.

Nem todos os pés são adoráveis, alguns tens joanetes que mais parecem esporões de tão horríveis que são. Aos olhos desatentos passam despercebidos dentros dos sapatos, mas para mim, aquele pequeno volume forçando o sapato como uma lança era degradante de ver, e como a pior das doenças não havia cura. O joanete é uma celebração da postura incorreta, de algo que a seleção natural esqueceu de limar. Ao mesmo tempo vejo pisadas leves e cautelosas que escondem calos, quem tem calo não cuida de seu pé e quem não cuida dele não merece tê-lo. Talvez eu esteja louco ao afirmar isso, mas sou um maníaco podólatra, não devem esperar de mim menos que isso.

Não sei como cheguei no lugar, como me pus embaixo da escada. Algo completamente intuitivo, instintivo. Não sei. As pessoas ao longe comentavam, eu não escutava. O som alto, as luzes piscantes atrapalhavam a minha percepção. Mas eu podia ler os lábios e ver seu olhar reprobatório, eles falavam de mim. Me chamavam de tarado. Sim, eu sou um tarado. Só que não estava ali pela calcinha de ninguém. Pouco me importava gorda ou magra, entroncada ou esguia. Me interessava no alto do tarso que era possível ver entre uma pisada e outra.

Excitante e inebriante a experiência de ficar debaixo da escada, pena, mas pena mesmo ser inverno. E naquele momento escutei o que eu defini como "A sinfonia do pisar", sim, os passos lentos e corretamente espaçados, a palma do pé pisava exatamente como um livro de anatomia dizia que um pé humano deveria pisar. Sincronia perfeita entre os ossos, músculos e o solo. Não resisti de por a mão para que aquela maravilha pisasse a minha mão.

Quero te lamber, quero de adorar pé maravilhoso. Me chuta, vais me fazer feliz assim. Te quero me pisando, pois é assim que te gosto. Vem me fazer feliz, mesmo que tua dona ache isso estranho. Uma experiência avassaladora dos sentidos, é o que eu espero. O que não acontece.

Volto para casa frustrado, me masturbo com um catálogo de sapatos. E espero o verão chegar ou que alguém tropece em mim.