quarta-feira, 16 de julho de 2008

Encontros

Encontrou-se consigo mesmo.

- Oi!
- Olá.
- Antes de perguntar por praxe, sei que estou bem.
- Também sei.
- É muito bom me encontrar.
- Pensando melhor, nem tanto.
- Eu quero me dizer uma coisa.
- Então diga.
- Eu sou um babaca.
- É tenho de admitir que sou.
- Bom, já disse o que queria, estou indo.
- Espera, quero te falar uma coisa também.
- O quê?
- Te amo.
- Eu também.

domingo, 6 de julho de 2008

Bang!

Caminhava pela rua, e viu um ponei roxo. Sacou o revolver e atirou. Bang!

Gritou:
- O que diabos faz um ponei roxo nessa cidade? Toma chumbo, seu filho da puta.

Mas o cavalinho não morreu, e relichava de dor. Quando apareceu um padre, Bang! Na testa. Gabriel não gostava de pessoas religiosas, diziam que isso o levaria para o inferno.

Olhou para a arma na mão, não sabia de onde ela vinha. Muito menos o ponei roxo ou o padre. Mas estava tudo alí. Ele atirou na mão para ver se não estava dormindo. Bang! Não estava.

Achou que estava louco, vendo coisas. Apareceu uma cobra que falou:
- Senhor, poderia me dizer onde fica...

Bang!
- Cobras não falam.

Gabriel acreditou estar louco de verdade. Lembrou da bula do psicotrópico que dizia "não ingerir com bebidas alcóolicas". Estava fudido e mal pago, louco varrido, com uma arma na mão direita e a ensanguentada mão esquerda. Bang! Para o ar.

Quando o xerife apareceu.

- Entregue a arma.
- Não.
- Entrega.
- Não.

Bang! Bang! Bang! Bang!

E assim Gabriel, morreu.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Que Vá Para o Inferno

Gilberto estava apressado a passos largos, Haroldo deu uma corridinha para acompanhá-lo e perguntou:

- Aonde vai com tanta pressa?
- Vou ao inferno.
- Por quê?
- Porque esfriou.
- O inferno esfriou?
- Sim, esfriou, estou indo pra lá e estou com uma pressa dos diabos.

Apertou o pique, Gilberto não queria a companhia, não gostava de gordos, tinha preconceito com quem não se cuidava e ficava comendo bobagens todos os instantes. Haroldo não tinha tanto fôlego. Comia ovos e bacon todos os dias, sedentário, bebia muito. Mas ainda sim o acompanhava. Tal qual um capacho.

- Gilberto, como você vai para o inferno?
- Acho que tenho de morrer para isso.
- E como você pensa fazer isso?
- Morrendo, claro.
- Isso não vai dar certo.

Gilberto chegou a ladeira e desceu correndo, Haroldo também, se tropeçando todo, taquicardia, aperto no peito que logo vira dor.

- Gilberto, vou morrer.
- Puta que pariu Haroldo, você sempre me atrapalha.
- Vou morrer Gilberto.
- Que merda, seu gordo escroto, você tem de ir em todo lugar que eu vou?
- Cara, eu tou morrendo e você discutindo isso.
- É, estou discutindo isso.
- Vai procurar ajuda, preciso de ajuda.

E foi quando Gilberto pulou na frente do ônibus, espatifado na rua, morreu. Como último pensamento sobrou "Aquele gordo nunca vai chegar no inferno antes de mim".

Haroldo, foi safenado. Emagreceu 40 kilos, e viveu mais 30 anos. Quando morreu também foi ao inferno. Que estava quente como o diabo gosta, e lembrou do amigo Gilberto. Quando o encontrou:

- Gilberto, quanto tempo!
- Olá Haroldo.
- O inferno não estava gelado?
- Não, esfriou.
- Então todo esse calor, é justamente o que esfriou?
- Sim, é.
- E por que diabos você queria tanto vir pra cá?
- Achei que ficaria longe de você.
- Você não me suporta né?
- Não!
- Que legal.
- O quê Haroldo?
- Sua punição perpétua é eu estar acompanhando de você.

Gilberto cruzou os braços e deu um suspiro de "puta merda!".