terça-feira, 1 de julho de 2008

Que Vá Para o Inferno

Gilberto estava apressado a passos largos, Haroldo deu uma corridinha para acompanhá-lo e perguntou:

- Aonde vai com tanta pressa?
- Vou ao inferno.
- Por quê?
- Porque esfriou.
- O inferno esfriou?
- Sim, esfriou, estou indo pra lá e estou com uma pressa dos diabos.

Apertou o pique, Gilberto não queria a companhia, não gostava de gordos, tinha preconceito com quem não se cuidava e ficava comendo bobagens todos os instantes. Haroldo não tinha tanto fôlego. Comia ovos e bacon todos os dias, sedentário, bebia muito. Mas ainda sim o acompanhava. Tal qual um capacho.

- Gilberto, como você vai para o inferno?
- Acho que tenho de morrer para isso.
- E como você pensa fazer isso?
- Morrendo, claro.
- Isso não vai dar certo.

Gilberto chegou a ladeira e desceu correndo, Haroldo também, se tropeçando todo, taquicardia, aperto no peito que logo vira dor.

- Gilberto, vou morrer.
- Puta que pariu Haroldo, você sempre me atrapalha.
- Vou morrer Gilberto.
- Que merda, seu gordo escroto, você tem de ir em todo lugar que eu vou?
- Cara, eu tou morrendo e você discutindo isso.
- É, estou discutindo isso.
- Vai procurar ajuda, preciso de ajuda.

E foi quando Gilberto pulou na frente do ônibus, espatifado na rua, morreu. Como último pensamento sobrou "Aquele gordo nunca vai chegar no inferno antes de mim".

Haroldo, foi safenado. Emagreceu 40 kilos, e viveu mais 30 anos. Quando morreu também foi ao inferno. Que estava quente como o diabo gosta, e lembrou do amigo Gilberto. Quando o encontrou:

- Gilberto, quanto tempo!
- Olá Haroldo.
- O inferno não estava gelado?
- Não, esfriou.
- Então todo esse calor, é justamente o que esfriou?
- Sim, é.
- E por que diabos você queria tanto vir pra cá?
- Achei que ficaria longe de você.
- Você não me suporta né?
- Não!
- Que legal.
- O quê Haroldo?
- Sua punição perpétua é eu estar acompanhando de você.

Gilberto cruzou os braços e deu um suspiro de "puta merda!".

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