quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Montado na Augusta

José Petrillo, editor de uma revista nacional especializada em lançamentos da música pop. Bianca Sister, correspondente no Brasil de uma das maiores revistas de Rock do mundo. William Alves, jornalista com a mais invejável coleção de CDs e Vinis de São Paulo. Quando juntos eram conhecidos como Os Kings do Blasé, por causa de uma música independente de qualidade questionável.

Estavam caminhando pela Avenida Augusta rumo ao novo lugar onde o elegante era ser exatamente o oposto, nem sabiam o nome e nem importava, seria simplesmente a maior fila por ser novidade da noite paulistana. Mas eles não se preocupavam com fila, isso era algo para as pessoas normais.

Bianca tinha acabado de contar como foi o primeiro show do Of Montreal em Nova York, antes de eles fazerem sucesso, e contara aos amigos que estava namorando. José reclamava que todos os lugares alí eram exatamente iguais, as mesmas pessoas, a mesma música, que preferia escutar seu iPod a ter que escutar algum DJ de 22 anos colocando sons, que ele conhecia antes dos tais DJs nascerem. William estava empolgado pois iria escutar ao vivo a nova banda de um dos ex-integrantes de uma banda que lançou 2 discos na década de 90 fenomenais, e que dissolveram formando outras 5 bandas, e essa era a única delas que ele ainda não tinha visto ao vivo.

Bianca pediu para que esperassem um instante na esquina enquanto buscava o namorado, em um daqueles botecos sujos pediram uma cerveja e foram servidos em copos americanos. Os dois não tinham receios sobre a lavagem dos copos, a adolescência rebelde de ambos os deram anti-corpos suficientes para não se importar.

Sentaram no balcão onde um rapaz mais novo que eles, mas não tanto. Com cabelo parecendo um argentino de tão arrumados mullets, óculos de acetato branco, camisa polo com gola em vê amarrada por um cordão, listrada em branco e azul, headphones, a calça jeans justa e surrada, os tênis vans-slips raridade que pareciam na real um Conga antigo. William fez questão de gesticular para todos os itens do rapaz, e José concordara com a cabeça dizendo que os indies eram todos iguais.

Especularam sobre onde o rapaz iria: Outs, Inferno, Vegas ou algum lugar novo? Riram muito e começaram a falar nos velhos tempos. William estranhou a demora da senhorita Sisters e ligou para seu celular.

- Alô! oi, eu não tou achando ele aqui, já ligo para vocês.

Desligou sem dar tempo de William responder ao "Alô!". José achava que o namorado estava atrasado, William não acreditava nem que ele existia.

O rapaz ao lado, baixou os fones, e pediu um maço de Lucky Strike, os dois se entreolharam e deram um risinho. O Rapaz percebeu e perguntou:

- Algum problema com Lucky Strike?

Eles desconversaram ignorando completamente o rapaz. Que já não colocou os fones de volta, e ficou apenas aquele barulho ao longe do que ele escutava, ao acaso era Of Montreal. William esticou o braço pelo ombro de Petrillo e com um ar sarcástico disse:

- Of Montreal é uma das melhores bandas canadenses que eu conheço.

José que estava de costas, riu para dentro, pois sabia que se tratava de uma pegadinha de William, já que a banda na verdade era Americana. O Rapaz fez uma cara de espanto, como quem diria "Nossa, vocês conhecem essa banda!". O Jornalista deslanchou em falar sobre o Canadá e já se preparava para contar o porquê dos integrantes do Tokyo Police Club não terem olhos puxados.

Então o rapaz fala:
- Até hoje de tarde eu nunca tinha ouvido falar nessa banda, acho que sou um alienado. Parece que todo mundo conhece.

José que até então se limitava a rir, resolve intervir pedindo para olhar o iPod, e num rápido girar do disco central percebe que existem 80 gigas de indie rock, onde pelo menos 30 ele mal ouviu falar por serem bandas da parte industrial de Belfast, ou simplesmente bandas de rock austriacas. Pediu para William olhar especificamente uma banda que eles comentaram na semana anterior, uma sueca chamada CDOASS, William arregalou os olhos como quem diz "Nossa, como ele conhece essa banda?". José desconversou, não quis parecer interessado. William queria saber se ele tinha o EP da banda, que ele precisava muito.

- EP? Como assim?

Foi o que o rapaz disse. José cerrou os olhos, achando que o rapaz os queria fazer de idiotas. Devolveu o aparelho, pediu outra cerveja e ficou de costas, William viu a reação do amigo e pediu licença. Petrillo estava indignado, se deixara passar por idiota para um novato. William ria, não ligava por ser um dos Kings do Blasé, para Petrillo aquilo realmente tinha algum significado.

- Onde diabos está a Bianca?

Foi o que o editor perguntou e respondido com um simples "procurando o namorado" pelo jornalista. William pensou, que aquele rapaz poderia ser um ótimo namorado para Bianca "Não encontro ninguém da minha idade com um bom gosto musical" Sisters. Então ligou para ela mais uma vez, dessa vez ao invés de um monólogo deseperado, foi um suspiro de alívio acompanhado de "relaxa meu dengo, que eu já estou chegando". Isso sim era estranho. Os planos de cúpido de William Alves ficariam para outro dia, afinal estava claro que em instantes Bianca entraria pela porta com o tal namorado, o falar em suspiros ao telefone foi uma denúncia de que o amor estava no ar.

Foi quando viram Bianca entrando no bar, com um sorriso de orelha a orelha, e com os olhos procurando algo. Possivelmente o namorado que não encontrou na rua, pois estava sozinha quando entrou. William pergunta:

- Ué, cadê o namorado?
- Ele disse que estaria aqui no bar, mas não estou vendo ele.

Os dois na mesa se entreolharam e deram um pequeno sorriso. Interrompidos pela pergunta de Bianca:

- O que foi, vocês não acreditam que eu tenho um namorado?
- Calma minha cara, não estamos sugerindo nada, pensamos que fosse uma piada - Disse José.
- Mas temos um exemplar nesse bar que acho que você deveria conhecer, ele tem inclusive CDOASS entre suas bandas, acredita?- Interrogou William.
- Eu fico 5 minutos fora e vocês me arrumam um namorado novo! Vocês são uns imorais. E quem é essa pessoa interessante que eu não vou precisar criar.
- Como assim criar? - José fez uma cara de espanto enquanto perguntava isso.
- Como eu nunca consigo arrumar um namorado com um gosto musical decente, eu peguei um bombado de academia, fiz o melhor sexo da vida dele e estou moldando ele a minha imagem e semelhança.
- Bianca, isso é horrível! - Comentou William, mas José riu.
- Gente, ele tá vindo, morreu o assunto.

Os dois na mesa acompanharam o olhar de Bianca até o corredor dos banheiros de onde vinha o cara com o óculos de acetato branco na direção de Bianca, sorriu e veio tirando os headphones, mas como ele estava distante ainda, Bianca perguntou:

- E quem é o cara que vocês queriam me apresentar?
- Apenas fruto da nossa imaginação. - Responderam em coro.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Danação.

Estava vivo, não sabia há quanto tempo. Se morreu também não sabia, tudo era estranho.

Nunca havi comido presunto, copa ou pastrami. gostou muito.

Tomou café frio e viu um porco morto, sentiu nojo.

Continuava com fome bacon, costelas assadas.

Tomou outro gole de café e viu mais uma vez o porco morto.

Foi aí que percebeu que realmente não estava entre os vivos, que alí era o inferno cristão, mas como judeu entendia o humor negro do diabo.

E continuava com fome.