As pessoas caminham e eu posso escutar cada passo, todo pé emite seu barulho próprio: pois cada um carrega em si um peso diferente, possui um formato diferente, a sua digital é o seu caminhar. Queria poder morar na praia, onde as pessoas andam descalças e poderia saber exatamente o som de cada pisada como uma identidade. Mas infelizmente não posso. E o pior de tudo, agora é inverno.
Não sei explicar ao certo a sensação de prazer que tenho ao admirar um pé. Observo tudo: desde o movimento do tarso em contato com a perna até a ponta das falanges distais. Não sei explicar como é bonito um pé bem formado, como isso me excita, como isso me enche de prazer e me faz parecer tão esquisito aos olhos de tantos.
Quanto eu não daria para ver um pé neste inverno, pois é claro que com essa minha fixação as namoradas ficaram longes e acabo me voltando para os pés de aluguel. Mas as mulheres sumiram das ruas, só encontro travecos com seus pés tamanho 42, tamanhos esses que não me interessam. Se vocês pudessem escutar como é a pisada de um homem usando um salto, nem mesmo precisariam olhar nos meios das pernas para saber do que se trata de um individuo másculo e como é ofensivo aos meus sensíveis ouvidos tal situação.
O pé da mulher tão fino, delicado, unhas feitas, dedos bem distribuídos; interessantes, ao contrário dos pés masculinos, grossos e desengonçados, unhas por fazer e dedos calejados de tanto futebol. Pés de atletas não se comparam em nada com os pés das dondocas, que visualmente me enchem os olhos em um salão.
As vezes reflito sobre essa minha obsessão e o quanto ela move minha vida, mas é algo além da minha vontade e compreensão. Definitivamente é uma paixão avassaladora e intensa que move a minha observação ao pé alheio. A cada segundo que passa é uma nova paixão diferente, um pé em um calçado. Uma doce emoção.
Me perco na agonia quando o inverno chega e as sandálias rasteiras desaparecem, os scarpins vão sumindo gradativamente, tudo vira bota.
Como é ofensivo o som da bota, aquele maldito o salto carregado, o pisar estranho. Tudo fica tão ruim no inverno, que penso em ficar em casa. Mas não, não posso, a vontade de captar um pé novo é maior. Só que não adianta, todos estão com encapados. Por deus, tudo que eu queria era ver um pé que não fosse o meu.
Nem todos os pés são adoráveis, alguns tens joanetes que mais parecem esporões de tão horríveis que são. Aos olhos desatentos passam despercebidos dentros dos sapatos, mas para mim, aquele pequeno volume forçando o sapato como uma lança era degradante de ver, e como a pior das doenças não havia cura. O joanete é uma celebração da postura incorreta, de algo que a seleção natural esqueceu de limar. Ao mesmo tempo vejo pisadas leves e cautelosas que escondem calos, quem tem calo não cuida de seu pé e quem não cuida dele não merece tê-lo. Talvez eu esteja louco ao afirmar isso, mas sou um maníaco podólatra, não devem esperar de mim menos que isso.
Não sei como cheguei no lugar, como me pus embaixo da escada. Algo completamente intuitivo, instintivo. Não sei. As pessoas ao longe comentavam, eu não escutava. O som alto, as luzes piscantes atrapalhavam a minha percepção. Mas eu podia ler os lábios e ver seu olhar reprobatório, eles falavam de mim. Me chamavam de tarado. Sim, eu sou um tarado. Só que não estava ali pela calcinha de ninguém. Pouco me importava gorda ou magra, entroncada ou esguia. Me interessava no alto do tarso que era possível ver entre uma pisada e outra.
Excitante e inebriante a experiência de ficar debaixo da escada, pena, mas pena mesmo ser inverno. E naquele momento escutei o que eu defini como "A sinfonia do pisar", sim, os passos lentos e corretamente espaçados, a palma do pé pisava exatamente como um livro de anatomia dizia que um pé humano deveria pisar. Sincronia perfeita entre os ossos, músculos e o solo. Não resisti de por a mão para que aquela maravilha pisasse a minha mão.
Quero te lamber, quero de adorar pé maravilhoso. Me chuta, vais me fazer feliz assim. Te quero me pisando, pois é assim que te gosto. Vem me fazer feliz, mesmo que tua dona ache isso estranho. Uma experiência avassaladora dos sentidos, é o que eu espero. O que não acontece.
Volto para casa frustrado, me masturbo com um catálogo de sapatos. E espero o verão chegar ou que alguém tropece em mim.
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8 comentários:
antes um homem sentisse tanto por uma saboneteira de mulher!
tá aí uma coisa que merece ser olhada.
nelson rodrigues já cobiçou uma saboneteira.
boas palavras meu caro...
vou add no meu blog
abs!
grande nelson né(d)
hehe
velho nelson, nego nelson, velho nego. Nego safado!
Tche tu é uma figura!! hehehe
de álbum de figurinhas ou cards colecionáveis?
adorei o seu testemunho, identifico-me com o que li e com que voce escreveu, ainda ontem encontrei um pezinho tao lindo, babei literalmente e nao pude deixar de sentir o pé duro imaginando o prazer que me poderia proporcionar. encontrei-o em http://osteuspes.blogspot.com. Se alguem conseguir descobrir a identidade daquela deusa, partilhem comigo!
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