quinta-feira, 19 de junho de 2008

Necro

Ele a abraçou, ela não resistiu. Ultimamente a achava muito fria e passiva, sentia falta dos dias de amores calientes. Pedro era apaixonado por Elizabeth desde o colégio, e estavam juntos há anos. Casados, apaixonados e ativos sexualmente.

A acariciou no rosto, ela não respondeu. Ele insistia nos carinhos e ela permanecia inerte. Pedro pensava que o amor dela havia acabado; chegou a lagrimar por imaginar tamanha bobagem e se limitou a pensar que mal podia ter feito a sua esposa.

Sussurrava em seus ouvidos os mais belos poemas já escritos em toda a história da humanidade, e ela não dava a mínima.

Havia algo de muito errado com ela, que não mais respondia suas carícias, não mais incomodava os vizinhos com seus orgasmos, ela simplesmente não reagia. Arrancou-lhe as roupas, bateu no rosto dela, urrava "Diz que me ama! Porra!", mas ela continuava calada e não esboçava menor reação.

O que Pedro havia feito de tão ruim, para a pessoa que mais amava no mundo do dia para a noite ignorá-lo? Não tinha outras mulheres, não era bonito para outras pessoas os desejarem, tinha uma vida comum e monótona, freqüentava umas vezes a igreja outras a ubanda.

Deitou ao lado dela, pediu desculpas. Nunca deveria ter-lhe batido, ela estava de costas para ele e não se incomodava de virar para olhá-lo na face. Ele pedia perdão, e ela permanecia do mesmo jeito.

Ele beija sua nuca e diz "Eu te Amo", quando a campainha toca.

Ele põe um roupão e desce, dá pra ver as luzes giratórias da polícia. Algum vizinho deve ter visto ou ouvido o tapa. Teria de explicar as autoridades o ato de violência doméstica.

- Senhor Pedro Alcântara?
- Sim, sou eu.
- Queira nos acompanhar, o senhor está preso por posse e ocultação do cadáver de Elizabeth Âlcantara.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Sistema

Roberto não era religioso, na verdade nem religião tinha. Dedicava-se somente ao trabalho e tinha ojeriza à boemia. Era um yuppie workaholic, com meta no primeiro milhão de dólares antes dos 30.

Na faculdade conheceu Rosana, por quem se apaixonou alucidamente ao ponto que sairia do trilho de sua meta de vida. Mas ela era comunista, ativista, dessas que usava boina, cabelo chanel e sempre alguma estrela vermelha em qualquer coisa que vestisse. Um livro vermelho no bolso escondido e a internacional comunista como canto de alegria.

Óbviamente não se deram tão bem quanto ele ou ela puderam querer um dia. O fim do relacionamento resumiu-se em diferenças político-ideológico-economicas.

Quando ele formou, já tinha aberto o próprio negócio que gerava lucros absurdos explorando um mercado de concorrência nula. Ações, juros baixos, desenvolvimento econômico, tudo garantiria que tudo estava realmente dentro dos planos de Roberto.

Passaram alguns anos e ele estava prestes a chegar no seu primeiro milhão pessoal, a empresa já atingira há tempos, mas o estresse e a super dedicação exigem seu preço no corpo, careca lustosa, um corpo sedentário e cheios de vícios que só o dinheiro pode pagar.

Um dia reencontrou Rosana, professora universitária com vários livros publicados internacionalmente, sem estrelas vermelhas e com sapatos Gucci. Os anos lhe foram generosos, exceto por uma ou outra curva que lhe acentuou. Desiludida em parte com alguns dos ideais de sua juventude, mas ainda fiel ao regime vermelho mesmo o muro de Berlin já tendo caído há anos.

Ele a convidou para jantar. O melhor restaurante da cidade, elegantes pratos e umas garrafas de Lafite Rotshchild. E tinha tido até então nem uma conversa interessante até que Roberto diz:

- Quer casar comigo?
- Porque isso agora Roberto?
- Quer casar comigo?
- Não. Eu estaria me vendendo ao capitalismo.
- Alta costura, sapatos, luxo e dinheiro não te seduzem então?
- Não.
- E o que você faz com esses Prada última coleção, um brilhante que vale uma casa popular, tomando do meu vinho que equivale ao salário de 4 anos de um trabalhador de um país subdesenvolvido?
- Uma vez Mao disse "é melhor deixar se envolver pelas pequenas moscas do que ficar com a janela fechada".
- Ah, Armani, Prada, Chanel são as moscas então.
- Por um ponto de vista, sim.
Emudecem...
- É você se perdeu nas suas ideologias, Rosana.
- E você seguiu a sua cartilha.

E Rosana tomou uma última taça de vinho. Saiu aos tropeços, Roberto ficou sentado apreciando o momento, pensando que não haviam pequenas moscas, e sim um pandemônio do tipo que arrebentariam a janela de qualquer jeito. E quando Rosana percebesse isso, ele a pediria novamente em casamento.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

DDA

- Hoje pela manhã encontrei com a pessoa mais desbocada do mundo.
- Sério? não acredito, o que ele te disse?
- Me chamou no mínimo de filho-da-puta.
- E no máximo?
- Nem queira saber.
- Mas eu quero.
- Não vou contar.
- Bora, conta aí.
- Fico constrangido.
- Porra! deixa de ser assim e conta logo.
- Não!
- Mas que merda, vai deixar os outros curiosos lá na casa do caralho.
- Isso de longe foi um elogio para o que eu escutei hoje.
- O que você escutou?
- Não conto.
- Então quer saber? pega a porra do caralho dessa merda que tu escutou e enfia no cu.
- Não posso.
- Ué, mas por quê?
- Aquilo que o desbocado falou ainda vai ficar muito tempo enfiado por lá.
- Vai se fuder, tu e essa merda toda.

O amigo deu as costas e foi embora indignado. E ele ficou alí morrendo de vergonha por ter mentido, ao invés de simplesmente dizer que não tinha prestado atenção no que o maior desbocado do mundo falou.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Intimidade

Chamava-se Paulo, ela Vanessa.

Ele acordado, Vanessa dormia.

Paulo fumava ao lado da janela, Nêssa roncava baixinho sem perder o encanto.

Pelado admirava-a, inerte deixava as mostras suas vergonhas, que era o melhor pijama disponível na casa dele.

Paulo resolveu olhar de perto a encantadora buceta, Wanessa estava no 4º estágio do sono profundo.

Beliscou com os dentes uma das nádegas, ela respondeu com flatulência silenciosa e mortal.

Ele reclamou, ela acordou e disse:

- Vêm cá amor, o que foi?

Com uma cara de relapso que ela não podia ver no escuro, ele respondeu:

- Intimidade.

domingo, 1 de junho de 2008

O Cu, o Cachorro e o Martelo.

O quarto dele era tão imundo que ela trancou o cu. Nem que ele pedisse com todo amor e carinho ela iria dar, se ele arrumasse o quarto e implorasse, talvez.

Se conheciam há meses, ficaram há semanas, transaram há dias e ela achava que hoje era um dia especial. Mas com aquele quarto daquele jeito era impossível.

Havia odor de corpos suados como uma academia pé-de-chinelo, camisinhas usadas pelo chão que ele deixava para o cachorro comer, dizia que o probrezinho gostava, e gostava mesmo.

Ele a acariciava e se aproveitava de seu corpo, ela gostava. Ele tentou forçar a entrada pelos fundos, mas ela trancou o rabo e disse que não dava, que não era dessas, apesar de estar pensando em dar, não custava valorizar o material.

Argumentou no ouvido, sussurros delicados de quem quer comer um cu, nada que ela mais experiente já não tivesse ouvido e caído naqueles contos. Insistia e ela negava, transaram convencionalmente.

O cachorro ali prostrado ao lado da cama esperando sua sobremesa.

No auge da foda, ela sente que tem de dar. Sussurra no ouvido dele "Meu cuzinho é seu, me come", ele segura a cabeça dela com as duas mãos, beija sua testa e diz "eu diria, enfia no cu, mas isso seria um ouroboros, então fica com ele pra você".

Ele vira para o lado, joga para o cachorro a camisinha cheia. Ignora-a completamente, estava satisfeito. Um autêntico filho-da-puta.

Ela se veste e vai embora.

Um tempo.

Volta sorrateiramente com um martelo nas mãos, com um único golpe abre um buraco na cabeça dele enquanto dormia. Foi embora, achando que tinha dado um bom motivo para limpar aquele maldito quarto.