Ao olhar para aquele suculento rosbife mal passado, que sangrava na medida certa, a cor variando entre marrom tostado das extremidades e seguindo em um degradê ao vermelho vivo no epicentro dele, que contrastava com amarelo brilhante da fina linha de gordura que estava alí para acentuar o sabor. Sentiu a boca salivar.
Serviram-lhe em um cálice alto e de boca larga, cabernet de safra de uns anos atrás, uma muito boa diga-se de passagem, frutado e seco nas medidas corretas, sabia disso sem mesmo provar. O aroma era tão agradável que as narinas se expandiam sem força para melhor absorver aquela sensação.
Olhou para a esposa com um olhar sereno e observou como suas rugas eram tão nítidas agora, assim como seus pés de galinha. Notava como a pele dela se sobrepunha no pescoço e em todos os nodos de sua saboneteira tão funda que dava uma agonia só de olhar. De olhar sua boca e saber que nem um daqueles 32 dentes não era prótese ou implante, imaginou como os seios dela estavam murchos e não podiam sustentar um decote. Parou de olhar.
Cortou um naco do bife que pegava justamente uma parte tostada, o meio mal passado e um filete de gordura. Levou a boca ao mesmo tempo que já segurava o cálice com a outra mão, fechou os olhos, mastigou bem o pedaço de carne, engoliu, sentiu a boca encher de água, então colocou o nariz da boca larga daquele copo, sentiu o aroma, bebeu do vinho e o gosto era exatamente como ele imaginara, um prazer inigualável. Que ao abrir os olhos e se deparar com sua esposa, vomitou tudo fora.
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