quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Gostos e Desgostos

Ao olhar para aquele suculento rosbife mal passado, que sangrava na medida certa, a cor variando entre marrom tostado das extremidades e seguindo em um degradê ao vermelho vivo no epicentro dele, que contrastava com amarelo brilhante da fina linha de gordura que estava alí para acentuar o sabor. Sentiu a boca salivar.

Serviram-lhe em um cálice alto e de boca larga, cabernet de safra de uns anos atrás, uma muito boa diga-se de passagem, frutado e seco nas medidas corretas, sabia disso sem mesmo provar. O aroma era tão agradável que as narinas se expandiam sem força para melhor absorver aquela sensação.

Olhou para a esposa com um olhar sereno e observou como suas rugas eram tão nítidas agora, assim como seus pés de galinha. Notava como a pele dela se sobrepunha no pescoço e em todos os nodos de sua saboneteira tão funda que dava uma agonia só de olhar. De olhar sua boca e saber que nem um daqueles 32 dentes não era prótese ou implante, imaginou como os seios dela estavam murchos e não podiam sustentar um decote. Parou de olhar.

Cortou um naco do bife que pegava justamente uma parte tostada, o meio mal passado e um filete de gordura. Levou a boca ao mesmo tempo que já segurava o cálice com a outra mão, fechou os olhos, mastigou bem o pedaço de carne, engoliu, sentiu a boca encher de água, então colocou o nariz da boca larga daquele copo, sentiu o aroma, bebeu do vinho e o gosto era exatamente como ele imaginara, um prazer inigualável. Que ao abrir os olhos e se deparar com sua esposa, vomitou tudo fora.

Sorriso.

Ele sentou tirou os calçados e deixou o restante para ela tirar, afinal ele estava pagando, aliás já havia pago. Nunca havia feito aquilo: pagar por sexo. Mas acreditava que na vida pra tudo existe uma primeira vez, até mesmo para essa frase clichê.

Era uma profissional do sexo como diria um vídeo do youtube, só que neste caso valia o dinheiro gasto. Pois fazia de tudo com dedicação merecida e não dava sequer beijo na boca.

Quando se deu por vencido e se espertou com o apitar da campainha que a hora havia acabado, se vestiu. Ela já estava pronta havia alguns minutos então ela se despediu com um beijo no rosto e ainda na porta ela disse "você tem um sorriso cativante" e saiu.

Ele querendo ouvir que era bom de cama, mas foi pra casa ainda mais feliz, pois sabia que aquele era realmente um elogio sincero.